sexta-feira, 5 de março de 2010

Literatura pelo mundo

Literatura Portuguesa - Parte V

As Academias

A Academia da História, estabelecida por João V em 1720 em imitação à francesa, publicou quinze volumes de Memórias e fundou as bases do estudo crítico dos Anais portugueses; entre seus membros estavam Caetano de Sousa, autor de uma volumosa História da Casa Real, ou o bibliógrafo Barbosa Machado. A Real Academia das Ciências, fundada em 1780, fez algo similar com respeito à crítica literária, ainda que este labor foi levado a cabo fundamentalmente por outras instituições similares, as Arcádias.

Poesia: as Arcádias

Dentre as Arcádias, equivalente literário das Academias, a mais importante era a Arcádia Lusitana (também conhecida como Arcádia Olissiponense) estabelecida em 1756 pelo poeta Antonio Diniz da Cruz e Silva, com a intenção de "formar uma escola que sirva de bom exemplo em eloquência e poesia"-. Esta Academia incluía a alguns dos escritores mais influentes de sua época: Pedro Antonio Joaquim Correa da Serra Garção compôs uma Cantata de Dido, bem como sonetos, odes e epístolas; os versos bucólicos de Domingos dos Reis Tira tinham a singeleza e a doçura dos de Bernardim Ribeiro, enquanto o poema épico-satírico Hyssope, do próprio Cruz e Silva, satiriza as fitas-cola eclesiásticas, os tipos sociais locais e a galo-mania da época com humor. As disputas internas levaram à dissolução da Arcádia em 1774, mas já para então tinha contribuído a elevar a qualidade dos textos e a introduzir novas formas poéticas na literatura portuguesa. Infortunadamente, alguns de seus componentes não só imitaram aos clássicos greco-latinos e aos poetas renascentistas portugueses, senão que desenvolveram um estilo frio e cerebral, sem emoção nem colorido, com uma expressão excessivamente académica. Muitos dos poetas da Arcádia seguiram o exemplo do Mecenas da época, o Conde de Ericeira, e dedicaram-se a nacionalizar o pseudo-classicismo que tinham aprendido em França.

Em 1790 nasceu uma Nova Arcádia, à que pertencia Manuel Maria Barbosa Du Bocage, que quiçá tivesse chegado a ser um grande poeta em outras circunstâncias. Seu talento levou-lhe no entanto a reagir contra a mediocridade geral, e não conseguiu se elevar a grande altura de maneira sustentada, suas sonetos competem com os de Camões. Também foi um maestro da poesia breve e improvisada, que empregou com sucesso em sua Pena de Talião contra José Agostinho de Macedo. Este sacerdote era um autêntico ditador literário, e em sua obra Vos Burros ultrapassou a todos os demais poetas na agressividade de suas invectivas. Inclusive chegou a tentar substituir os Lusíadas de Camões com uma obra épica inferior, Oriente. No aspecto positivo, escreveu notáveis obras didáticas e odes aceitáveis, e suas cartas e panfletos políticos mostram conhecimentos e versatilidade. Contudo, sua influência no ambiente literário de Portugal foi mais negativa que positiva.

Dos restantes membros das Arcádias, o único autor que merece se mencionar é Curvo Semedo; entre os "dissidentes" — autores que se mantiveram fora destas Arcádias—, há três que mostraram independência criativa: José Anastácio da Cunha, Nicolau Tolentino e Francisco Manuel do Nascimento, mais conhecido como Filinto Elísio. O primeiro compôs versos filosóficos e ternos; o segundo desenhou os costumes e manias de sua época em quintilhas cheias de talento e realismo, e o terceiro viveu no exílio em Paris mantendo o culto pelos poetas do século XVI, apurou a língua de galicismos e enriqueceu-a com numerosas obras, originais e traduzidas: ainda que faltava-lhe imaginação, seus contos, ou cenas da vida portuguesa, apresentam uma interessante nota realista, e suas traduções em verso livre de os Mártires de Chateaubruand são muito destacáveis. Pouco dantes de sua morte converteu-se ao Romantismo, e contribuiu a preparar o caminho de seu sucesso, na pessoa de Almeida Garrett.

Prosa

A prosa do século XVIII está fundamentalmente dedicada a temas científicos, ainda que as cartas de Antonio da Costa, Antonio Ribeiro Sanches e ALexandre de Gusmão têm um valor literário verdadeiro, e as de Carvalheiro de Oliveira, menos corretas desde o ponto de vista do estilo, são também úteis como fonte de informação.

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