segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Literatura pelo mundo - Portugal (parte I)


Origens da literatura portuguesa
A literatura portuguesa nasce no momento em que surge o idioma português, ou melhor dito quiçá, galaico-português. Ainda que é possível que existissem formas poéticas anteriores, os primeiros documentos literários conservados pertencem precisamente à lírica galaico-portuguesa, desenvolvida entre os séculos XII e XIV com uma importante influência da poesia trovadoresca provençal; esta lírica estava formada por canções ou cantigas breves, desenvolveu-se primeiro nos cortes da Galiza e o norte de Portugal, e mais tarde transladou-se ao corte de Afonso X o Sábio, rei de Castela e de Leão, onde as cantigas seguiram se escrevendo em galego-português. Outros poetas desenvolveram sua arte no corte do rei D. Afonso III de Portugal, e mais tarde na de D. Dinis I, ambos monarcas protetores e impulsionadores da cultura. O corpus total da lírica galaico-portuguesa, excluindo as Cantigas de Santa Maria, consta de 1685 textos, recolhidos em cancioneiro como o Cancioneiro de Ajuda, o Cancioneiro da Biblioteca Vaticana ou o Cancioneiro Colocci-Brancuti, além dos pergaminhos Vindel e Sharrer.
A prosa galego-portuguesa teve um desenvolvimento mais tardio que a poesia, e não apareceu até o século XIII, em que adaptou a forma de breves crônicas, heliografias e tratados de genealogia denominados Livros de Linhagens. Não se conservou nenhum cantar de gesta portuguesa, mas sim, em mudança, livros de cavalaria, como a Demanda do Santo Graal. Nesta época escreveu-se ademais, possivelmente, a primeira versão, hoje perdida, do Amadís de Gaula, cujos três primeiros livros foram escritos segundo algumas fontes por um tal João Lobeira, trovador de finais do século XIII. Estas narrações cavaleirescas, ainda que desprezadas pelos homens cultos de finais da Idade Média e do Renascimento, gozaram do favor popular, dando lugar às intermináveis sagas dos "Amadíses" e os "Palmerines", tanto em Portugal como em Espanha.


O século XV


No final do século XIV, com a Crise de 1383-1385, inicia-se uma nova etapa na literatura portuguesa. Nesta época, os reis seguiam muito envolvidos com a criação poética: o rei D. João I de Portugal escreveu um Livro da caça, e seus filhos Eduardo e Pedro compuseram tratados morais. Também nesta época, um escreva anônimo contou a história heróica de Nuno Álvares Pereira na Crônica do Condestável. A tradição cronística portuguesa começou com Fernão Lopes, quem compilou as crônicas dos reinados de Pedro I, Fernando I e João I, combinando a paixão pela exatidão com uma especial destreza para a descrição e o retrato. Gomes Eanes de Zurara, quem sucedeu-lhe no posto como cronista oficial, e escreveu a Crônica da Guiné e das guerras africanas, é igualmente um historiador bastante fiável, cujo estilo, no entanto, está afetado pelo pedantismo e a tendência moralizante. Seu sucessor, Rui de Pina, evita estes defeitos e oferece um relato se não artístico, sim ao menos útil, dos reinados de D. Duarte, D. Afonso V e D. João II. Sua história do reinado deste último monarca foi, também, reutilizada pelo poeta Garcia de Resende, que a enfeitou com episódios vividos por ele em primeira pessoa, e a publicou baixo seu nome.
No campo da poesia, esta época está marcada pela influência da poesia renascentista italiana, em especial de Petrarca, que se introduziu na literatura portuguesa através da espanhola. Isto levou a que muitos autores, como o Pedro Condestável de Portugal, amigo de Íñigo López de Mendoza, escrevessem em espanhol. Evidências da influência da literatura italiana sobre a portuguesa nesta época são o gosto pela alegoria ou pelas referências à Antiguidade clássica. Nesta época colecionaram-se cancioneiros como o Cancioneiro Geral, que contém o labor de uns 300 cavaleiros e poetas de tempos de D. Afonso V e D. João II, que foi compilado por Resende e inspirado por Juan de Mena, Jorge Manrique e outros poetas espanhóis. A maioria destas composições eram poesias artificiosas e conceptistas de temática amorosa ou satírica. Entre os escassos poetas que demonstraram um especial talento e verdadeiro sentimento poético se encontram o próprio Resende, autor de uns versos à morte de Inês de Castro; Diogo Brandão, autor de um Fingimento de Amores, ou o próprio Condestável dom Pedro. No entanto, entre estes cancioneiros aparecem também três nomes que estavam destinados a mudar o curso da literatura portuguesa: Bernardim Ribeiro, Gil Vicente e Sá de Miranda.

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