O século XVI: o Renascimento
O Renascimento, como movimento
artístico, científico e literário, o que aqui interessa, floresceu na Europa
nos séculos XIV ao XVI, valorizando os temas em torno do homem (o humanismo) e
a busca de conhecimento e inspiração nas obras da antiguidade clássica (o
classicismo).
O movimento teve início na
Itália, sendo Petrarca, Dante e Boccaccio os seus maiores vultos literários
precursores. Francesco Petrarca, em O Cancioneiro, glorifica o amor na sua
poesia lírica e fixa a forma do soneto; Dante Alighieri faz a síntese da alma
medieval com o espírito novo em A Divina Comédia ; Giovanni Boccaccio, no
Decameron, faz a crítica da sociedade do seu tempo.
O Cancioneiro Geral, publicado
por Garcia de Resende em 1516, e referido no tópico supra, é o elo de ligação
entre o século XV – o século da introdução do humanismo em Portugal – e o
século XVI– o século ainda do humanismo, mas por excelência do classicismo. No
Cancioneiro estão representados mais de duzentos poetas, sendo o Cancioneiro o
repositório da maior parte da produção poética portuguesa que está entre o fim
do período literário medieval e o início do período clássico, entre eles o
próprio Garcia de Resende com as famosas Trovas
à Morte de Inês de Castro, Gil Vicente e Sá de Miranda.
O século XVI inicia-se para a
literatura portuguesa com a introdução de novos géneros literários provenientes
do estrangeiro, sobretudo de Itália. Entre eles temos a poesia pastoral,
introduzida em Portugal por Bernardim Ribeiro; ao mesmo género pertencem as
éclogas de Cristóvão Falcão. Estas composições, assim como as Cartas de Sá de Miranda, foram compostas
em versos de arte maior, desprezando-se a chamada medida velha (denominada
também como "metro nacional" para distingui-lo do hendecassílabo de
gosto italiano), a qual acabou por ser usada, por exemplo, por Camões nas suas "obras menores", por Antonio
Gonçalves Annes Bandarra nas suas profecias ou por Gil Vicente.
No campo da poesia lírica, além
do já citado Sá de Miranda, que introduziu as formas da escola italiana na
literatura portuguesa (o soneto, a canção, a sextina, as composições em
tercetos e em oitavas e os versos de dez sílabas), cabe citar Antonio Ferreira,
Diogo Bernardes, Pero Andrade de Caminha e Frei Agostinho da Cruz, todos eles
seguidores da escola italiana, ainda que nas suas obras se possa apreciar certo
artificialismo nos modelos, o que acontece menos nas obras de Frei Agostinho da
Cruz.
A poesia épica desenvolveu-se
sobretudo graças a Luis de Camões, que foi capaz de fundir os elementos
clássicos com os elementos nacionais para criar uma poesia nova, e sobretudo
uma verdadeira épica culta nacional, em especial em Os Lusíadas. Os seus
seguidores, entre eles jerónimo Corte-Real, Luís Pereira Brandão, Francisco de
Andrade, Gabriel Pereira de Castro, Francisco de Sá Meneses ou Brás Garcia de
Mascarenhas, nunca alcançaram o seu nível, não passando as obras destes autores
de crônicas em verso.
A prosa, desenvolveu-se magistralmente durante o séuclo XVI,
fundamentalmente a prosa histórica, as crônicas de viagens e a prosa
religioso-moralista.
As Décadas de João de Barros, continuadas por Diogo do Couto,
descreveram com maestria as façanhas dos portugueses no descobrimento e
conquista do Oriente; Damião de Góis, humanista e amigo de Erasmo, descreveu
com uma destacável independência o reinado do rei D. Manuel I de Portugal.
Jeronimo Osorio tratou o mesmo tema em latim, mas as suas interessantes Cartas apresentam um tom mais vulgar.
Entre outros autores que trataram das viagens ao Oriente estão Fernão Lopes de
Castanheda, Antonio Galvão, Gaspar Correa, Brás de Albuquerque, Frei Gaspar da
Cruz e Frei joão dos Santos. As crônicas reais ficaram nas mãos de Francisco de
Andrade e Frei Bernardo da Cruz; Miguel Leitão de Andrada compilou um
interessante volume intitulado Miscelânea.
A literatura de viagens desta
época é demasiado extensa para ser resumida: os exploradores portugueses
visitaram e descreveram a costa da África, a Etiópia, a Síria, a Pérsia, a
Índia, o Extremo Oriente e o Brasil. Sobressai como mostra deste tipo de obras
a Peregrinação de Fernão Mendes
Pinto, que narrou as suas aventuras num estilo vigoroso e colorido, assim como
a História Trágico- Marítima reúne breves historias anônimas sobre naufrágios
entre 1552 e 1604.
Os diálogos de Samuel Usque, um
judeu de Lisboa, também merecem ser mencionados. Os temas religiosos eram
objeto geralmente de tratados em latim, mas entre os autores moralistas que
empregaram a língua vulgar estão Frei Heitor Pinto, Frei Amador Arrais e Frei
Tomé de Jesus, cujos Trabalhos de Jesus
foram traduzidos em várias línguas.
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