sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Literatura pelo mundo - Portugal (parte III)


Barroco

Em geral, a literatura portuguesa do século XVII tem sido considerada inferior à do século anterior, que por isso atinge a qualificação de Século de Ouro. Esta inferioridade atribuiu-se ao absolutismo da monarquia, e à influência da Inquisição, que impôs a censura e o Index Librorum Prohibitorum. No entanto, pode apreciar-se um declive geral, tanto político como cultural, da nação portuguesa neste século. O gongorismo e o marinismo manifestam-se nos poetas "seiscentistas", impondo o gosto pelo retórico e o obscuro. A revolução que levaria à Independência de Portugal em 1640 não conseguiu no entanto investir a tendência descendente, nem atenuar a influência cultural de Espanha, de maneira que o espanhol seguiu sendo o idioma mais empregado entre as classes dominantes e entre os autores que procuravam uma audiência mais ampla, e os autores portugueses de séculos anteriores foram esquecidos como modelos. Esta influência estrangeira foi especialmente forte no teatro: os dramaturgos portugueses escreveram em espanhol, de maneira que o português só foi empregado em peças religiosas de escasso valor ou em comédias engenhosas como as de Francisco Manuel de Melo, autor de um Auto do Fidalgo Aprendiz. Nesta época surgiram diversas Academias de nomes exóticos que tentavam elevar o nível geral das letras portuguesas, mas se perderam em discussões estéreis e ajudaram ao final ao triunfo do pedantismo e do mau gosto.

Poesia lírica


No século XVII continuaram escrevendo-se obras do género pastoril, como as de Francisco Rodrigues Lobo, melodiosas ainda que artificiosas; D. Francisco Manuel de Melo, autor de sonetos morais, escreveu também imitações de romances populares, como o Memorial a Juan IV, bem como os engenhosos Apólogos Diálogos, e a filosofia doméstica da Carta de Guia de Casados, em prosa. Outros poetas deste período são Sor Violante do Ceo e Frei Jeronimo Bahia, gongoristas; Frei Bernardo de Brito, autor da Sylvia de Lizardo, e os escritores satíricos Tomás de Noronha e Antonio Serrão de Castro.

Prosa


No século XVII foi em geral mais produtivo no campo da prosa que no do verso: floresceram a história, a biografia, a eloquência religiosa e o gênero epistolar. Os principais historiadores desta época foram frades que trabalhavam desde suas celas e não, como no século anterior, viajantes ou conquistadores, testemunhas dos fatos narrados; isto fez que em geral fossem melhores estilistas que historiadores. Por exemplo, dentre os cinco autores que contribuíram à extensa obra Monarquia Lusitana, só Frei Antonio Brandão era consciente da importância da evidência documental. Frei Bernardo de Brito, por exemplo, começa a obra com a Criação, e termina-a onde deveria a ter começado, confundindo constantemente lenda e verdade histórica; Frei Luís de Sousa, famoso estilista, trabalhou com materiais anteriores para criar a famosa hagiografia Vida de D. Frei Bartolomeu dos Mártires e seus Anais do Rei D. João III. Manuel de Maria e Sousa, historiador e comentarista da obra de Camões, elegeu o castelhano como meio de expressão, ao igual que Melo quando se propôs relatar as Guerras Catalãs, enquanto Jacinto Freire de Andrade relatou numa linguagem grandiloquente a vida do vice-rei justiceiro, João de Castro.
A eloquência religiosa atingiu sua máxima altura neste século, no que a originalidade e o poder imaginativo de seus sermões fizeram que o português P. Antônio Vieira fosse considerado em Roma como o "Príncipe dos Oradores Católicos": certamente, ainda que suas obras mostram alguns defeitos do mau gosto da época, no entanto é verdadeiro que mostram grandeza de ideias e de expressão. Os discursos do horaciano Manuel Bernardes mostram também uma especial calma e doçura, e podem ser considerados um modelo clássico de prosa portuguesa. A escritura epistolar está representada por sua vez por autores como Francisco Manuel de Melo, Frei Antonio das Chagas e pelas cinco cartas que compõem as Cartas de Mariana Alcoforado.

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