Barroco
Em geral, a literatura
portuguesa do século XVII tem sido considerada inferior à do século anterior,
que por isso atinge a qualificação de Século de Ouro. Esta inferioridade
atribuiu-se ao absolutismo da monarquia, e à influência da Inquisição, que
impôs a censura e o Index Librorum Prohibitorum. No entanto, pode apreciar-se
um declive geral, tanto político como cultural, da nação portuguesa neste
século. O gongorismo e o marinismo manifestam-se nos poetas
"seiscentistas", impondo o gosto pelo retórico e o obscuro. A
revolução que levaria à Independência de Portugal em 1640 não conseguiu no
entanto investir a tendência descendente, nem atenuar a influência cultural de
Espanha, de maneira que o espanhol seguiu sendo o idioma mais empregado entre
as classes dominantes e entre os autores que procuravam uma audiência mais
ampla, e os autores portugueses de séculos anteriores foram esquecidos como
modelos. Esta influência estrangeira foi especialmente forte no teatro: os
dramaturgos portugueses escreveram em espanhol, de maneira que o português só
foi empregado em peças religiosas de escasso valor ou em comédias engenhosas
como as de Francisco Manuel de Melo, autor de um Auto do Fidalgo Aprendiz. Nesta época surgiram diversas Academias
de nomes exóticos que tentavam elevar o nível geral das letras portuguesas, mas
se perderam em discussões estéreis e ajudaram ao final ao triunfo do pedantismo
e do mau gosto.
Poesia lírica
No século XVII continuaram
escrevendo-se obras do género pastoril, como as de Francisco Rodrigues Lobo,
melodiosas ainda que artificiosas; D. Francisco Manuel de Melo, autor de
sonetos morais, escreveu também imitações de romances populares, como o Memorial a Juan IV, bem como os
engenhosos Apólogos Diálogos, e a
filosofia doméstica da Carta de Guia de
Casados, em prosa. Outros poetas deste período são Sor Violante do Ceo e
Frei Jeronimo Bahia, gongoristas; Frei Bernardo de Brito, autor da Sylvia de Lizardo, e os escritores
satíricos Tomás de Noronha e Antonio Serrão de Castro.
Prosa
No século XVII foi em geral
mais produtivo no campo da prosa que no do verso: floresceram a história, a
biografia, a eloquência religiosa e o gênero epistolar. Os principais
historiadores desta época foram frades que trabalhavam desde suas celas e não,
como no século anterior, viajantes ou conquistadores, testemunhas dos fatos
narrados; isto fez que em geral fossem melhores estilistas que historiadores.
Por exemplo, dentre os cinco autores que contribuíram à extensa obra Monarquia Lusitana, só Frei Antonio
Brandão era consciente da importância da evidência documental. Frei Bernardo de
Brito, por exemplo, começa a obra com a Criação, e termina-a onde deveria a ter
começado, confundindo constantemente lenda e verdade histórica; Frei Luís de
Sousa, famoso estilista, trabalhou com materiais anteriores para criar a famosa
hagiografia Vida de D. Frei Bartolomeu
dos Mártires e seus Anais do Rei D.
João III. Manuel de Maria e Sousa, historiador e comentarista da obra de
Camões, elegeu o castelhano como meio de expressão, ao igual que Melo quando se
propôs relatar as Guerras Catalãs, enquanto Jacinto Freire de Andrade relatou
numa linguagem grandiloquente a vida do vice-rei justiceiro, João de Castro.
A eloquência religiosa atingiu
sua máxima altura neste século, no que a originalidade e o poder imaginativo de
seus sermões fizeram que o português P. Antônio Vieira fosse considerado em
Roma como o "Príncipe dos Oradores Católicos": certamente, ainda que
suas obras mostram alguns defeitos do mau gosto da época, no entanto é
verdadeiro que mostram grandeza de ideias e de expressão. Os discursos do
horaciano Manuel Bernardes mostram também uma especial calma e doçura, e podem
ser considerados um modelo clássico de prosa portuguesa. A escritura epistolar
está representada por sua vez por autores como Francisco Manuel de Melo, Frei
Antonio das Chagas e pelas cinco cartas que compõem as Cartas de Mariana Alcoforado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário