domingo, 16 de setembro de 2012

Literatura pelo mundo - Portugal (parte IV)


Neoclassicismo

A afetação marcou a literatura portuguesa da primeira metade do seúclo XVIII, na que no entanto começaram a se apreciar algumas mudanças graduais que desembocariam na grande reforma literária conhecida como Romantismo. Distintos homens que fugiram ao estrangeiro para escapar do despotismo reinante contribuíram ao progresso intelectual da nação durante os últimos anos do século. Verney criticou por exemplo os obsoletos métodos educativos e expôs a decadência literária e cientista da nação Verdadeiro Methodo de Estudar, enquanto as diversas Academias e Arcádias trabalharam por conseguir a pureza do estilo e a dicção, e traduziram melhor os clássicos estrangeiros.

As Academias


A Academia da História, estabelecida por João V em 1720 em imitação à francesa, publicou quinze volumes de Memórias e fundou as bases do estudo crítico dos Anais portugueses; entre seus membros estavam Caetano de Sousa, autor de uma volumosa História da Casa Real, ou o bibliógrafo Barbosa Machado. A Real Academia das Ciências, fundada em 1780, fez algo similar com respeito à crítica literária, ainda que este labor foi levado a cabo fundamentalmente por outras instituições similares, as Arcádias.

Poesia: as Arcádias


Dentre as Arcádias, equivalente literário das Academias, a mais importante era a Arcádia Lusitana (também conhecida como Arcádia Olissiponense) estabelecida em 1756 pelo poeta Antonio Diniz da Cruz e Silva, com a intenção de "formar uma escola que sirva de bom exemplo em eloquência e poesia". Esta Academia incluía a alguns dos escritores mais influentes de sua época: Pedro Antonio Joaquim Correa da Serra Garção compôs uma Cantata de Dido, bem como sonetos, odes e epístolas; os versos bucólicos de Domingos dos Reis Tira tinham a singeleza e a doçura dos de Bernardim Ribeiro, enquanto o poema épico-satírico Hyssope, do próprio Cruz e Silva, satiriza as fitas-cola eclesiásticas, os tipos sociais locais e a galo-mania da época com humor. As disputas internas levaram à dissolução da Arcádia em 1774, mas já para então tinha contribuído a elevar a qualidade dos textos e a introduzir novas formas poéticas na literatura portuguesa. Infortunadamente, alguns de seus componentes não só imitaram aos clássicos greco-latinos e aos poetas renascentistas portugueses, senão que desenvolveram um estilo frio e cerebral, sem emoção nem colorido, com uma expressão excessivamente académica. Muitos dos poetas da Arcádia seguiram o exemplo do Mecenas da época, o Conde de Ericeira, e dedicaram-se a nacionalizar o pseudo-classicismo que tinham aprendido em França.
Em 1790 nasceu uma Nova Arcádia, à que pertencia Manuel Maria Barbosa Du Bocage, que quiçá tivesse chegado a ser um grande poeta em outras circunstâncias. Seu talento levou-lhe no entanto a reagir contra a mediocridade geral, e não conseguiu se elevar a grande altura de maneira sustentada, suas sonetos competem com os de Camões. Também foi um maestro da poesia breve e improvisada, que empregou com sucesso em sua Pena de Talião contra José Agostinho de Macedo. Este sacerdote era um autêntico ditador literário, e em sua obra Vos Burros ultrapassou a todos os demais poetas na agressividade de suas invectivas. Inclusive chegou a tentar substituir os Lusíadas de Camões com uma obra épica inferior, Oriente. No aspecto positivo, escreveu notáveis obras didáticas e odes aceitáveis, e suas cartas e panfletos políticos mostram conhecimentos e versatilidade. Contudo, sua influência no ambiente literário de Portugal foi mais negativa que positiva.
Dos restantes membros das Arcádias, o único autor que merece se mencionar é Curvo Semedo; entre os "dissidentes" — autores que se mantiveram fora destas Arcádias—, há três que mostraram independência criativa: José Anastácio da Cunha, Nicolau Tolentino e Francisco Manuel do Nascimento, mais conhecido como Filinto Elísio. O primeiro compôs versos filosóficos e ternos; o segundo desenhou os costumes e manias de sua época em quintilhas cheias de talento e realismo, e o terceiro viveu no exílio em Paris mantendo o culto pelos poetas do século XVI, apurou a língua de galicismos e enriqueceu-a com numerosas obras, originais e traduzidas: ainda que faltava-lhe imaginação, seus contos, ou cenas da vida portuguesa, apresentam uma interessante nota realista, e suas traduções em verso livre de os Mártires de Chateaubruand são muito destacáveis. Pouco dantes de sua morte converteu-se ao Romantismo, e contribuiu a preparar o caminho de seu sucesso, na pessoa de Almeida Garrett.

Prosa


A prosa do século XVIII está fundamentalmente dedicada a temas científicos, ainda que as cartas de Antonio da Costa, Antonio Ribeiro Sanches e ALexandre de Gusmão têm um valor literário verdadeiro, e as de Carvalheiro de Oliveira, menos corretas desde o ponto de vista do estilo, são também úteis como fonte de informação.

Poesia


No início do século XIX, a literatura portuguesa experimentou uma revolução literária iniciada pelo poeta Almeida Garrett, quem tinha entrado em contato com o Romantismo inglês e francês durante seu exílio, e que decidiu basear suas obras na tradição nacional portuguesa. Em seu poema narrativo Camões (1825), rompeu com as regras estabelecidas de composição; seguiram-lhe Flores sem Fruto e a coleção de poemas amorosos Folhas Caídas, enquanto sua elegante prosa está recolhida na obra miscelânea Viagens na minha terra.
Entre os primeiros seguidores de Almeida Garrett encontra-se Alexandre Herculano, cuja poesia está cheia de motivos patrióticos e religiosos, e de reminiscências de Lamennais. O movimento voltou-se ultra-romântico em mãos de autores como Castilho, um maestro do verso escasso de ideias, ou nos versos de João de Lemos ou do melancólico Soares de Passos. Tomás Ribeiro, autor do poema patriótico D. Jaime, é sincero em seus conteúdos, mas segue os excessos desta escola em sua gosto pela forma e a melodia.
Em 1865, um grupo de jovens autores liderados por Antero de Quental, e pelo futuro presidente Teófilo Braga, rebelaram-se contra a dominação das letras portuguesas ostentada por Castilho, e, influídos por tendências estrangeiras, proclamou a aliança de filosofia e poesia. Uma feroz guerra de panfletos contribuiu à queda de Castilho, e a poesia ganhou com isso em profundeza e realismo, se voltando também anticristã e revolucionária. Como poeta, Quental deixou uns sonetos elegantes mas pessimistas, inspirados no neo-budismo e nas ideias agnósticas provenientes de Alemanha, enquanto Brada, positivista, criou uma épica da humanidade, Visão dos Tempos.
Guerra Junqueiro é recordado principalmente como o poeta irônico de Morte de D. João, mas em Pátria também conseguiu invocar à Dinastia de Bragança em algumas cenas poderosas, e em Vos Simples interpretou a natureza e a vida rural à luz de sua imaginação panteísta. Antonio Gomes Leal, por sua vez, é um poeta anticristão com toques de baudelaire, enquanto João de Deus, um dos poetas mais importantes de sua geração, não pertencia a nenhuma escola, e tomava sua inspiração das mulheres e a religião; seus primeiros poemas, reunidos em Campo de Flores, estão marcado por uma ternura e um misticismo sensual muito portugueses.
Outros poetas interessantes desta época são o sonetista João Penha, o parnasiano Gonçalves Crespo ou o simbolista Eugenio de Castro.
A princípios do século XX surgiu o grupo da "Renascença Portuguesa", em torno da revista "A Águia", e ao redor do qual se integrava o movimento conhecido como Saudosismo, nostálgico e subjetivo, e cujo máximo representante era o poeta Teixeira de Pascoaes. No entanto, o grande poeta de começos do século é Fernando Pessoa, que não atingiu um grande sucesso em vida, mas que depois de sua morte tem passado a ser considerado a par de Camões como o melhor poeta português de todos os tempos. Sua obra poética baseia-se na invenção de diferentes vozes poéticas ou heterônimos (Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis ou Bernardo Soares, entre outros), a cada um deles com uma personalidade e um estilo poético próprios. Outro poeta desta época, que compartilhou páginas com Pessoa na revista modernista "Orpheu" foi Mário de Sá-Carneiro, poeta que se suicidou em Paris em 1916. Também José Régio sobressaiu como poeta e dramaturgo.
Em meados do século, surgem duas tendências opostas na literatura portuguesa: um deles em torno da revista Presença, mais próxima ao vanguardismo, e o outro, próximo do neorrealismo, em torno da coleção Novo Cancioneiro, com figuras como Álvaro Feijó, João José Cochofel, Carlos Oliveira ou Manuel da Fonseca. Também nesta época existia o grupo surrealista de Lisboa, cujas figuras principais eram Antonio Pedro, Mario Cesariny de Vasconcelos e Alexandre O'Neill.
No caso do teatro, e também em meados do século XX cabe destacar as figuras de Júlio Dantas, Raul Brandão e José Régio. O contexto político da ditadura fomentou posteriormente uma nova literatura "de intervenção", que se popularizou graças a nomes como Bernardo Santareno, Luís Francisco Rebello, José Cardoso Pires ou Luís de Sttau Monteiro.
A princípios dos anos 70, em plena ditadura, publicaram-se uma série de obras em prosa e em verso de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa que publicaram uma grande polémica, devido a seu conteúdo erótico e feminista; sua publicação foi proibida, e só puderam reimprimir-se depois da queda da ditadura. Outra poetisa destacada desta mesma época foi Sophia de Mello Breyner Andresen, autora de uma ampla obra poética.
Nos últimos anos do século XX, e a começos do XXI, a literatura portuguesa em prosa tem demonstrado uma grande vitalidade, graças a escritores como Antonio Lobo Antunes e sobretudo o Prêmio Nobel de Literatura José Saramago, autor de novelas como "Ensaio sobre a Cegueira", "O Evangelho segundo Jesus Cristo" ou "A caverna".

Poesia


Na poesia, Luís de Camões e Fernando Pessoa são considerados como estando entre os maiores poetas portugueses de todos os tempos, aos quais se pode acrescentar Eugênio de Andrade, Florbela Espanca, Cesário Verde, Mário de Sá Carneiro, Sophia de Mello Breyner, ANtonio Ramos Rosa, Mário Cesariny, Antero de Quental, Herberto Helder, Antonio Aleixo entre outros.

Prosa


Na prosa, Damião de Góis, Padre Antonio Vieira, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Eça de Queiróz, Miguel Torga, Fernando Namora, José Cardoso Pires, Teolinda Gersão, Antonio Lobo Antunes e José Saramago são nomes de grande relevo.

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