sábado, 6 de outubro de 2012

Literatura pelo mundo - Rússia (parte II)


Século XX

No início do século XX, um considerável número de escritores russos — entre os quais, Aleksandr Aleksandrovitch Blok, Valeri Yakovlevich Briusov, Konstantin Dmitrievich Balmont, Boris Nikolaievich Bugaiev e Zinaida Nikolaievna Gippius — dedicou-se à poesia.

Enquanto isto, os escritores simbolistas insistiam em alterar as propriedades tradicionais do romance. O poeta, romancista e crítico literário Dimitri Sergeievich Merezhkovski empenhou-se em escrever estudos históricos, enquanto Fiodor Sologub descrevia fatos fantásticos ocorridos, paralelamente, aos acontecimentos da existência doutrinária.

Numerosos escritores trabalharam independentes de qualquer escola ou movimento. O dramaturgo e contista Leonid Nikolaievich Yreyev, o romancista Alexandr Ivanovich Kuprin e o poeta e romancista Ivan Alekseievitch Bunin — primeiro escritor russo que recebeu o Prêmio Nobel (1933) — enriqueceram a prosa russa com obras bastante pessoais.

O romancista, dramaturgo e ensaísta Maksim Gorki realizou uma síntese literária pessoal a partir de suas experiências e é considerado o fundador do movimento denominado Realismo Socialista.

Durante o período de relativa calma que se seguiu à fundação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, surgiu uma nova escola de pensamento, segundo a qual a cultura proletária substituiria as formas herdadas do passado. Segundo esta escola, a literatura seria a ferramenta de conscientização e transformação da sociedade. Os escritores Futuristas, encabeçados pelo poeta Vladimir Vladimirovitch Maiakovski, propuseram uma drástica mudança nas formas, nas imagens literárias e na textura da linguagem. Outro grupo mais conservador, conhecidos como os Irmãos Serapion, preferiu manter-se fiel às tradições clássicas russas.

Boris Leonidovitch Pasternak tornou-se uma das vozes poéticas mais individualizadas de nossa época. Pasternak realizou, através de seus poemas líricos e narrativos, amplas explorações em torno da percepção. Por outro lado, Anna Akhmatova e Osip Emilievitch Mandelstam — associados ao grupo Acmeísta surgido no período pré-revolucionário — também alcançaram certa celebridade.

A narrativa desta época gravita em torno da doutrina oficial do Realismo Socialista e caracterizou-se pela grande dificuldade que encontraram os escritores da época em descrever a revolução e a guerra civil que a seguiu. Um dos romances mais populares deste período, Chapaiev (1932), de Dimitri Furmanov, oferece uma transcrição de acontecimentos pessoais e históricos. No outro extremo, situam-se as histórias breves de Isaac Babel nas quais os acontecimentos extraídos do diário do autor falam de irônicas discrepâncias e surpreendentes analogias entre fatos e pessoas nos anos da guerra civil. Nesta linha, destacam-se os romances de Konstantin Alexandrovich Fedin, Leonid Maximovich Leonov e Alexandr Alexandrovich Fadeiev.

No período imediatamente posterior à guerra, a curiosa combinação entre o ardor revolucionário e o afã comercial aparecem refletidos na narrativa de Valentin Petrovich Kataiev, nos ácidos relatos curtos e apontamentos de Mikail Zoshchenko e nas sátiras de Ilia Arnoldovich Ilf e Yevgeni Petrovich Petrov.

Os melhores escritores deste momento adaptaram-se às fórmulas políticas do Realismo Socialista, entre eles Leonov, o dramaturgo e romancista Konstantin Simonov e Mikhail Aleksandrovitch Cholokhov.

Com a morte de Josef Stalin, em 1953, os escritores começaram a se questionar sobre a vida na União Soviética, ao mesmo tempo em que dirigiam seus olhares para as viviam nos lugares mais distantes do país. O renomado poeta Ievgueni Aleksandrovitch Ievtuchenko voltou a injetar paixão em uma moribunda tradição poética e seu contemporâneo, Yrey Voznesenski, contribuiu para vitalizar a linguagem da poesia.

Doutor Jivago (1957), de Boris Pasternak, não pode ser lido em russo até 1987. Em 1958 foi concedido o Prêmio Nobel de Literatura a seu autor. Pasternak, submetido à poderosas pressões oficiais, não o aceitou.

No começo da década de 1960, o crítico e erudito Yrey Siniavski publicou várias obras sob o pseudônimo de Abram Tertz. Entre elas encontrava-se um artigo em tom irônico, O que é o Realismo Socialista?, no qual atacava os fundamentos intelectuais desta doutrina. Em 1966, sob a acusação de difamar a União Soviética, Yrey Siniavski foi condenado, junto com o também escritor Yuli Markovich Daniel, a trabalhos forçados.

O renomado romancista Aleksandr Isaievitch Soljenitsin ultrapassou, constantemente, a linha que separava o permitido do proibido, não conseguindo livrar-se da censura. Em 1970, Solzhenitsin recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. Seu gesto foi duramente condenado pelo governo e pela União dos Escritores Soviéticos.

Durante o período pós-stalinista, o termo "literatura ilegal" (samizdat) foi usado, repetidas vezes, para qualificar as obras de Mikail Bulgakov, do poeta Joseph Brodsky, Prêmio Nobel de Literatura em 1987, além de muitos outros escritores e pensadores, entre eles, Valerii Tarsis. Após o colapso da União Soviética, em 1991, iniciou-se uma nova era na literatura russa. 

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