Século XX
No início do século XX, um considerável número de escritores russos — entre os
quais, Aleksandr Aleksandrovitch Blok, Valeri Yakovlevich Briusov, Konstantin
Dmitrievich Balmont, Boris Nikolaievich Bugaiev e Zinaida Nikolaievna Gippius —
dedicou-se à poesia.
Enquanto isto, os escritores simbolistas insistiam em alterar as propriedades
tradicionais do romance. O poeta, romancista e crítico literário Dimitri
Sergeievich Merezhkovski empenhou-se em escrever estudos históricos, enquanto
Fiodor Sologub descrevia fatos fantásticos ocorridos, paralelamente, aos
acontecimentos da existência doutrinária.
Numerosos escritores trabalharam independentes de qualquer escola ou movimento.
O dramaturgo e contista Leonid Nikolaievich Yreyev, o romancista Alexandr
Ivanovich Kuprin e o poeta e romancista Ivan Alekseievitch Bunin — primeiro
escritor russo que recebeu o Prêmio Nobel (1933) — enriqueceram a prosa russa
com obras bastante pessoais.
O romancista, dramaturgo e ensaísta Maksim Gorki realizou uma síntese literária
pessoal a partir de suas experiências e é considerado o fundador do movimento
denominado Realismo Socialista.
Durante o período de relativa calma que se seguiu à fundação da União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas, surgiu uma nova escola de pensamento,
segundo a qual a cultura proletária substituiria as formas herdadas do passado.
Segundo esta escola, a literatura seria a ferramenta de conscientização e
transformação da sociedade. Os escritores Futuristas, encabeçados pelo poeta
Vladimir Vladimirovitch Maiakovski, propuseram uma drástica mudança nas formas,
nas imagens literárias e na textura da linguagem. Outro grupo mais conservador,
conhecidos como os Irmãos Serapion, preferiu manter-se fiel às tradições
clássicas russas.
Boris Leonidovitch Pasternak tornou-se uma das vozes poéticas mais
individualizadas de nossa época. Pasternak realizou, através de seus poemas
líricos e narrativos, amplas explorações em torno da percepção. Por outro lado,
Anna Akhmatova e Osip Emilievitch Mandelstam — associados ao grupo Acmeísta
surgido no período pré-revolucionário — também alcançaram certa celebridade.
A narrativa desta época gravita em torno da doutrina oficial do Realismo
Socialista e caracterizou-se pela grande dificuldade que encontraram os
escritores da época em descrever a revolução e a guerra civil que a seguiu. Um
dos romances mais populares deste período, Chapaiev (1932), de Dimitri
Furmanov, oferece uma transcrição de acontecimentos pessoais e históricos. No
outro extremo, situam-se as histórias breves de Isaac Babel nas quais os
acontecimentos extraídos do diário do autor falam de irônicas discrepâncias e surpreendentes
analogias entre fatos e pessoas nos anos da guerra civil. Nesta linha,
destacam-se os romances de Konstantin Alexandrovich Fedin, Leonid Maximovich
Leonov e Alexandr Alexandrovich Fadeiev.
No período imediatamente posterior à guerra, a curiosa combinação entre o ardor
revolucionário e o afã comercial aparecem refletidos na narrativa de Valentin
Petrovich Kataiev, nos ácidos relatos curtos e apontamentos de Mikail
Zoshchenko e nas sátiras de Ilia Arnoldovich Ilf e Yevgeni Petrovich Petrov.
Os melhores escritores deste momento adaptaram-se às fórmulas políticas do
Realismo Socialista, entre eles Leonov, o dramaturgo e romancista Konstantin
Simonov e Mikhail Aleksandrovitch Cholokhov.
Com a morte de Josef Stalin, em 1953, os escritores começaram a se questionar
sobre a vida na União Soviética, ao mesmo tempo em que dirigiam seus olhares
para as viviam nos lugares mais distantes do país. O renomado poeta Ievgueni
Aleksandrovitch Ievtuchenko voltou a injetar paixão em uma moribunda tradição
poética e seu contemporâneo, Yrey Voznesenski, contribuiu para vitalizar a
linguagem da poesia.
Doutor Jivago (1957), de Boris Pasternak, não pode ser lido em russo até 1987.
Em 1958 foi concedido o Prêmio Nobel de Literatura a seu autor. Pasternak,
submetido à poderosas pressões oficiais, não o aceitou.
No começo da década de 1960, o crítico e erudito Yrey Siniavski publicou várias
obras sob o pseudônimo de Abram Tertz. Entre elas encontrava-se um artigo em
tom irônico, O que é o Realismo Socialista?, no qual atacava os fundamentos
intelectuais desta doutrina. Em 1966, sob a acusação de difamar a União
Soviética, Yrey Siniavski foi condenado, junto com o também escritor Yuli
Markovich Daniel, a trabalhos forçados.
O renomado romancista Aleksandr Isaievitch Soljenitsin ultrapassou,
constantemente, a linha que separava o permitido do proibido, não conseguindo
livrar-se da censura. Em 1970, Solzhenitsin recebeu o Prêmio Nobel de
Literatura. Seu gesto foi duramente condenado pelo governo e pela União dos
Escritores Soviéticos.
Durante o período pós-stalinista, o termo "literatura ilegal"
(samizdat) foi usado, repetidas vezes, para qualificar as obras de Mikail
Bulgakov, do poeta Joseph Brodsky, Prêmio Nobel de Literatura em 1987, além de
muitos outros escritores e pensadores, entre eles, Valerii Tarsis. Após o
colapso da União Soviética, em 1991, iniciou-se uma nova era na literatura
russa.
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