sábado, 18 de agosto de 2012

Literatura pelo mundo - EUA (parte II)


A poesia dos Estados Unidos no século XIX
Os dois maiores poetas norte-americanos do século XIX não podiam ter temperamentos e estilo mais dissemelhantes. Walt Whitman (1819 – 1892) era um trabalhador, um viajante que se tinha autoproposto como enfermeiro na Guerra Civil Americana (1861 – 1865), além de profundamente inovador no campo poético. A sua obra maior foi “Leaves of Grass” ("Folhas de Erva”), na qual usa o verso livre e a métrica irregular para descrever a completa diversidade do universo da democracia norte-americana. Avançando nesta estratégia poética, o poeta equaciona todo o vasto espectro da experiência americana consigo mesmo, conseguindo furtar-se à acusação fácil de um egoísmo crasso. Por exemplo, na “Song of Myself” (“Canção de mim mesmo”), o longo poema central de “Leaves of Grass”, Whitman escreve: “São estes, deveras, os pensamentos de todos os homens, em todas as terras e todas as idades; não são diferentes de mim…”
Whitman foi também um poeta do corpo – “o corpo eléctrico”, como lhe chamou. Nos seus Estudos de Literatura Americana Clássica, o romancista inglês D. H. Lawrence escreveu que Whitman “foi o primeiro a esmagar a antiga concepção moral segundo a qual a alma humana é algo superior que paira acima da carne.”
Emily Dickinson(1830 – 1886), por outro lado, levou uma vida de reclusão devido à sua condição de solteirona bem nascida, numa pequena cidade de Massachusetts. Na sua estrutura formal, a sua poesia demonstra engenho, é espirituosa, engendrada com requinte e de grande penetração psicológica. A sua obra era, no entanto, pouco convencional para a sua época, de modo que pouco foi publicado durante a sua vida.
Muitos dos seus poemas incidem sobre o tema da morte, utilizando muitas vezes fórmulas inesperadamente maliciosas. “Porque não pude parar para a Morte” começa um, “Ela, gentil, parou para mim” . No início de outro poema, Dickinson brinca com a sua posição de mulher numa sociedade dominada por homens, o que a remete para a sua condição de poetisa sem reconhecimento público: “I’m nobody! Who are you? / Are you nobody too?” (“Sou ninguém. Quem és tu? / És ninguém, tal como eu?”).

O dealbar do “Século de ouro americano”

No início do século XX, os romancistas americanos começaram a expandir o espectro social apresentado no campo ficcional, de forma a abarcar todas as classes sociais. Nos seus contos e romances, Edith Warthon (1862 – 1937) escrutinou a classe alta típica da costa leste dos Estados Unidos, onde cresceu. Um dos seus melhores livros, "A Idade da Inocência” (título dado em Portugal) (“The Age of Innocence”), centra-se na história de um homem que escolhe casar com uma rapariga “aceitável”, de acordo com os padrões convencionais desta camada social, em detrimento de uma outra, que o fascina e que pertence a uma outra esfera. Sensivelmente na mesma altura, Stephen Crane (1871 – 1900) – mais conhecido pelo seu romance, passado na Guerra Civil Americana, “The Red Badge of Courage” (em Portugal, conhecido pelo título "Sob a Bandeira da Coragem”, e no Brasil por “O Brasão Vermelho da Coragem”, “Emblema Rubro da Coragem” ou “Glória de um Covarde”) – descrevia a vida das prostitutas de Nova Iorque em “Maggie: a Girl of the Streets” ("Maggie: Uma rapariga das ruas”). Em “Sister Carrie”, Theodore Dreiser (1871 – 1945) retratou uma rapariga do campo que se muda para Chicago onde será mantida como amante de um homem rico – o mundo da prostituição de luxo. No século XX, vários autores ganham destaque, como William Faulkner, pondo em relevo as agruras do sistema de segregação racial. Richard Wright (1908-1960) ganhou destaque contando suas recordações de infância e adolescência como Black Boy (traduzido no Brasil por Negrinho), abrindo caminho para diversos autores negros, como por exemplo James Baldwin. Ernest Hemingway vencedor do prêmio Nobel de Literatura, desenvolveu uma técnica enxuta de narração, quase cinematográfica, onde as personagens se movem em quadros e os detalhes mais pormenores são realçados na estrutura da narração. Sua mais célebre novela é o "O velho e o mar". John Steinbeck um dos maiores autores da pós-recessão americana de 1929. Escreveu obras primas como "As Vinhas da Ira", narrando as aventuras da família Joad rumo a Califórnia, num êxodo americano rumo ao oeste fugindo da pobreza do leste, devastado pela recessão e a ganância das companhias bancárias. Outras obras do autor, A Leste do Éden, Boêmios Errantes, Ratos e Homens, A pérola, Rua das Ilusões Perdidas, entre outras. Também foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura, a exemplo dos seus antecessores e compatriotas William Faulkner e Ernest Hemingway.

Nenhum comentário:

Postar um comentário