quinta-feira, 2 de maio de 2013

Poesia - Profana (Élvio Vargas)

Lentamente dissipou-se o véu
vencido pelo clarão da manhã
Os meus reinos ardiam em chamas
palácios, coxias, cocheiras
mergulharam à mercê dos saques
Um vento nervoso, ofegante
lambia a rosa vermelha
eu me exibia 
navegando nua
nas profundezas do espelho
abissal, abissínio, abismal
O centurião das sombras
penetrava-me
e um fogo úmido escorria
pelos súditos das minhas carnes
Trêmula a barriga da perna
soçobrava
sobre a leveza dos lençóis
Ventre, púbis, ilíacos
rodopiavam aguados
no pântano morno das secreções
Os brancos continentes da pele
derretiam-se
ao leve toque da labareda
Meus orifícios sucumbiam
esvaídos na orgia dos pêlos
As coxas torneadas comprimiam
o feroz exercício do desejo
Uma corte toda rezava
e os súcubos aplaudiam
A inquisição e o santo ofício
queimavam gravetos e lenhas
não vim para ser Maria
Joana, Efigênia
deixarei apenas vestígios
de profana...

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